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Topic-iconA HORA DA ESTRELA — QUEDA EM ASCENÇÃO? Murilo Moreira Veras

3 anos 5 meses atrás#102por bruno

Doutrina Intimista por Edios Ribeiro

A prosa intimista ou prosa de sondagem psicológica é um estilo
literário em que as emoções e sentimentos do escritor e dos personagens da
obra são refletidos na escrita.

No Brasil, a escritora modernista que merece destaque na produção
de prosa intimista é, sem dúvida, Clarice Lispector (1920/1977).
Ela, Clarice Lispector, fez parte da terceira geração modernista,
também chamada de “Geração 45”, que reunia artistas empenhados em
demonstrar os novos caminhos da literatura e, sobretudo, da
experimentação literária e inovações estéticas.

Nesta fase, já é possível encontrar aspectos do pós-modernismo, ou
seja, a mistura do real com o imaginário e multiplicidade de estilos.
Além de Clarice, outros escritores brasileiros que produziram obras
de caráter intimista foram: Lygia Fagundes Telles, Nélida Piñon, Lya Luft,
Osmar Lins, Ivan Ângelo e Raduan Nassar.

Características da prosa intimista:

Linguagem coloquial.
Análise psicológica dos personagens.
Experiência pessoal e interior.
Foco no inconsciente e fluxo de consciência.
Fantasia e sonhos.
Conflitos interiores e introspectivos.
Multiplicidade de interpretações.
Tendências pós-modernistas.
Obras de Clarice Lispector:

Perto do Coração Selvagem (1943)
Laços de Família (1960)
A Legião Estrangeira (1964)
A Paixão Segundo G.H. (1964)
Uma Aprendizagem Ou O Livro dos Prazeres (1969)
O Ovo e a Galinha (1977)
A Hora da Estrela (1977)

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3 anos 6 meses atrás#100por bruno

Clarice Lispector nasceu na Ucrânia e foi naturalizada brasileira antes de completar 1 ano. Deixou vasta obra literária e A Hora da Estrela foi seu último romance. Faleceu em 1977.

Seus principais personagens neste livro são Macabéa e seu namorado Olímpico de Jesus, que, provavelmente por falta de um sobrenome paterno, acrescentou Moreira Chaves. Isso para ele, era identidade.

Ela era alagoana e recebeu o nome de Macabéa por uma promessa da sua mãe. Perdeu seus pais aos 2 anos de idade e foi criada por uma tia que lhe dava cascudos para que não se transformasse em vagabunda de rua. Não teve na família, no trabalho ou na vida, um ambiente que a protegesse e amparasse.

Era o símbolo de carência, do “nada” e quase perdia perdão por existir. Alma pura e inocente, tinha pouca consciência de si mesma. Sua fascinação eram as propagandas e o cinema. Não sabia que era infeliz, não alimentou a tristeza, mesmo quando seu namorado a trocou por Glória, sua colega de trabalho.
Seu namorado, Olímpico de Jesus era metalúrgico, ladrão nas oportunidades que apareciam e tinha um certo dom para as artes. Pintava santinhos e desejava no futuro ser deputado. Fugitivo por ter cometido um crime na Paraíba veio para São Paulo.

O diálogo entre esses namorados é literalmente vazio de conteúdos e de senso crítico, na sua relação como pessoa humana, inserida num mundo de humanos. Há momentos que nos fazem rir ou ter vontade de chorar. que nos fazem rir e chorar,Glória, “amiga de Macabéa, aconselhou-a a se consultar se com uma cartomante que lhe prometeu mundos e fundos no amor e nas finanças. Saiu do consultório tão fascinada e cheia de planos que sequer viu um carro que a atropelou, indo a óbito.

A autora faz a narrativa no masculino, por meio de Rodrigo S.M. Esse personagem, sem um rosto definido, é quem direciona o enredo. Faz o papel de mediador dos assuntos internos de Macabéa.
Deixa-nos 13 opções de títulos ou capítulos (??). Todos os momentos de tensão durante a estória são seguidos da palavra (explosão).

Essa obra traz à lembrança algo sobre psicanálise. Como não tenho domínio deste objeto, prefiro não argumentar ou aprofundar o tema. Edios encaminhou algo que me ajudou a melhorar a compreensão do perfil dos personagens.

Não achei a leitura fácil. Muitos devaneios e acabei, em alguns momentos, me perdendo. Interessante notar, que a personagem principal do livro só aparece a partir da página 28.
Seria a Hora da Estrela o ingresso de Macabéa na constelação de Deus? Clarice pressentia sua morte?

Brasília, 21 de outubro de 2020

Ena Galvão

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3 anos 6 meses atrás#99por bruno

Continuamos no Clube do Livro a prestigiar, com a leitura, nossos autores. Hoje — 21.10.20 — discutimos A Hora da Estrela, de Clarice Lispector. O livro foi editada em 1977, mesmo ano que a autora veio a falecer, portanto sua última obra.

1. Prólogo

A autora já é nossa conhecida e, embora tenha vivido pouco, foi prolífica na escritura. Até hoje seus livros continuam explodindo nas livrarias, agora sob o selo da Rocco. Interessante que as edições de seus livros tenham sido oportunizadas por seus filhos Pedro e Paulo Lispector, seus únicos herdeiros. Foi sua última obra, em 1977. Sabe-se que Clarice Lispector, nascida na Ucrânia e nacionalizada com meses de idade, sempre se disse brasileira, embora tenha fala de estrangeira, que ela atribuía a defeito (língua presa). Formou-se em Direito e foi amiga de Lygia Fagundes Telles, assim como de Érico Veríssimo, nas suas andanças pelo exterior, com o marido, cônsul ou embaixador. Nélida Pignon, da ABL em suas memórias fala muito da escritora, a quem muito auxiliou nos seus contratempos, inclusive até na hora de seu falecimento no Rio. No princípio, a crítica oficial não lhe fez loas, ao contrário, deu-lhe pouco fôlego, inclusive sem esperança de ir longe por sua maneira de escrever, difícil, intimista e fora da realidade. Dá-se justamente o contrário: a obra literária da escritora teve aceitação inédita e prospera até hoje, aqui e no exterior, a par de outros best-sellers como os livros de Virginia Wolf, Mary Allcot e Jane Austen.

2. Do Enredo

O desenrolar de A Hora da Estrela parece simples, à primeira vista. Narra ou pretende narrar um pedaço da vida de uma migrante nordestina no Rio de Janeiro, moça sem nenhum encanto pessoal, magra, de poucas letras, mas acima de tudo, virgem e boa de intenções. Uma estrela apagada — dir-se-á. É simples datilógrafa de um firma, vive agregada numa pensão com outras companheiras, inclusive uma chamada Glória, que se diz carioca da gema. O primeiro imbróglio no livro é que é escrito por um autor onisciente, que se transforma inclusive em personagem — o leitor assim tem de atentar para a Macabeia e seu criador, também feito titular na narrativa, ambos confundindo-se com o próprio autor, Clarice. É um truque da autora. A medida que se desenrola a estória, o falso autor se trumbica, quer parar a narração, ama e odeia seu personagem ao mesmo tempo. Observe-se que esse truque também foi usado, por exemplo, por Érico Veríssimo, no formidável O Tempo e o Vento. Alexandre Dumas, prodigioso escritor francês do século passado, a propósito de sua obra maior O Conde de Monte Cristo, afirmava que seu verdadeiro autor lhe teria deixado os originais na sua porta para que ele a publicasse. Pois bem. Macabeia, o nome da personagem, de vida simples e sem qualquer interesse, vive por viver, acaba arranjando um namorado que se chama Olímpico e os dois parecem irmãos, porque nada ocorre entre eles. Com o tempo, ela acaba perdendo-o para sua colega de trabalho, a Glória, que se dizia carioca da gema com quem o tal Olímpico quer se realizar, inclusive quanto a seus anseios, de ficar rico e ser político na Paraíba. Por fim, Glória aconselha Macabeia a melhorar sua vida, consultando uma cartomante. A pobre criatura vai à dita-cuja, que lhe enche de sonhos mirabolantes, a compensar sua vida medíocre, até lhe dá um namorado que irá fazê-la rica, um alemão imaginário chamado Franz. A moça sai da casa da cartomante encantada. De repente, na rua é pega repentinamente por um automóvel Mercedes. Ela cai no calçamento, ainda com vida, tem visões, enfim morre. Ali perto um violinista mambembe toca uma música, enquanto Macabeia expira. Eis o roteiro, às vezes extraordinário, depois, abrupto, espécie de ascensão ao paraíso. Queda em ascensão — dir-se-á.

3. Nosso Comentário

Nesta que foi sua última obra literária, Clarice Lispector parece manifestar seu estado de levitação, entre a mística e o realismo. Certo escritor português — Lobo Antunes — afirmou que a escritora nascida ucraniana, mas brasileira de Maceió, plagiara escritos da inglesa Virgínia Wolf, embora não tenha apresentado prova concreta — quem sabe por inveja. Os literatos oficiais, às vezes agem assim, fazem-se donos da verdade.
Espantou-me essa lavratura inorgânica de Clarice. Ter-se-á ela própria previsto sua passagem para o Paraíso? A autora sempre se mostrou esquiva, também a esquivaram, de início, das letras. Depois, eis que reconhecem sua virtuose literária. Era nortista, de Alagoas, de família imigrante, os pais pobres, estudou em colégio público, quem sabe até sofrendo bullying.
A Hora da Estrela é uma obra de leitura difícil, por seu caráter intimista. Talvez seja uma obra-prima, ou simplesmente uma prima-obra — depende do olho clínico do leitor, ao identificar-se com a história. O livro reflete uma visão telepática e esquizofrênica da própria autora, da vida e do mundo. Disto o sei, mas não me vanglorio, porque não a condeno por algum plágio seu como lhe acoimou, sem prova, o escritor de além-mar. O fato é que Clarice pratica, neste e em quase todos os livros, o misterioso streams of consciousness, o fluxo da consciência, ou o monólogo interior, o solilóquio, como o fizeram muitos outros escritores famosos, verdadeiros ícones, Gertrud Stein, Marcel Proust, Samuel Beckett, Jonh dos Passos, William Falkner e até nosso fantástico Guimarães Rosa. Trata-se de uma escritura fluídica que deriva da consciência ou do inconsciente, que jorra espasmódica do estro do autor, livre dos ditames ditatoriais da razão e da moral.
Clarice não escreve para nos agradar, parece nos abastecer de ideias negativas, conquanto nos renove a alma com rasgões de claridade, mesmo na escuridão. Prefere nos falar da essência humana, acena-nos para a glória, ao mesmo tempo que nos enfurece, por nos apresentar a lucidez da transcendência, enquanto o mundo se veste de vergonha.
Macabeia — o feminino do Macbeth shakespeariano ou o lado angelical do Macabeus bíblico? — será ela, a própria Clarice, espécie de Anjo Caído? O ser humano neste mundo, não passamos todos de Anjos Caídos, invertidos, como a Macabeia, das funções de brilhar? A Hora da Estrela é a hora de nos mostrarmos cintilantes numa existência que se nos mostra controversa? Ora, se na vida não passamos de estrelas apagadas — como a inútil Macabeia — morrendo, nosso estro se reveste de estrela brilhante, a buscar o paraíso transcendental?
De mim para mim, penso que o livro de Clarice nos apresenta a verdadeira face do mundo — uma explosão de lutas, ilusões, mas que, redimensionados por efeitos positivos, faz com que nossa alma, à hora suprema, se torne uma estrela brilhante, que aspira ao Paraíso.
Murilo Moreira Veras
Bsb, 6.10.20

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